Era mais um dia de
trabalho para João. Era uma típica segunda-feira, em que o mesmo se dirigia
numa limusine para a sede de sua empresa, J. Corporation. João, ao subir para
seu escritório, remexia em sua mente, a qual ainda estava sonolenta, as
atribuições para aquele belo dia. Assim, Quando finalmente chegou a seu local
de trabalho costumeiro, seus olhos embaçados pelo sono e pela falta de
entusiasmo distinguiam alguns dos muitos vultos que entravam e saiam do
gabinete; por isso, ignorando muitas das informações trazidas e esperando
ordens, as quais saiam mecanicamente de sua boca pelo hábito de fazê-las, esse
era o trabalho de João.
Muitas pessoas
competentes trabalhavam na alta administração da J.corp, mas, talvez, a mais
útil delas fosse o vice-presidente Paulo. Dessa forma, seu interesse e
convicção contrastava com o de João, seu melhor amigo, por assim dizer. Naquela
segunda-feira ocorreu algo curioso entre ambos os amigos, Paulo, ao entregar o
último relatório do dia, encontrou João falando sozinho, não, falando consigo
mesmo, achou estranho e saiu sem ser notado, o vice-presidente.
Ao cair da noite,
quando todos haviam se retirado do trabalho para seus respectivos lares,
ficaram a sós Paulo e João, por se sentir confortável na situação, perguntou a
seu superior sobre o episódio mais cedo. Dessa forma, João, demonstrando
altíssima confiança, contou que se sentia inútil e pensava em deixar a empresa.
Aquele lugar não o pertencia mais, não havia mais o que fazer ali, não havia
mais lugar para sí mesmo, era um estranho em meio a estranhos, encarcerado,
estava, em sua própria vida, sentenciado, estava, pelo compromisso com todos,
algo que não podia abandonar.
Seus pensamentos batiam
de frente com os de Paulo. Este acreditava que a empresa não era valorizada o
bastante por João e ela merecia mais; assim, disse para ele que deveria
repensar sua decisão de abandonar a corporação, afinal, era um grande
desrespeito para com todos os envolvidos na companhia, já que João era um único
membro do grande conjunto de pessoas que a compunham, por isso não podia
abandoná-la sem um substituto apropriado. João afirmou que pensaria sobre isso.
Ao sair do edifício,
Paulo pensou como seu chefe era idiota.
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Era uma bela tarde de
Verão. Podia-se ver o ponto de ônibus, o qual estava repleto de pessoas. Não.
Estava cheio de bravos guerreiros que, depois de um dia inteiro de lutas
inimaginavelmente penosas, voltavam à suas respectivas residências, seus
castelos de proteção e calmaria, ou não, suas moradias podiam ser,
simplesmente, mais um campo de batalha. João existia nessa vaga lembrança, mas
como toda memória ficou no passado.
João estava sentado em
um banco nessa tarde de Verão, vendo a vida passar em sua frente. Assim, meio a
multidão que se acotovelava no ponto, reconheceu uma figura familiar, a qual,
ao contrário das outras, não brigava por um lugar no transporte público ou
desejava voltar para sua casa. Dessa forma, essa figura se aproximava cada vez
mais de João, até que o coagido pronunciou:
- Olá Paulo, o que te
traz aqui? – disse João, sem espanto.
- Você, é claro! –
disse Paulo, o qual estava um tanto exaltado.
O mundo voltava. A ilusão daquela bela tarde de verão se
dissipava no ar, as palavras ditas por Paulo trouxeram à tona a verdade
absoluta, o mundo que se avistava, o mundo da luta, não mais pertencia a João.
Se lembrava de que havia uma importantíssima reunião, que estava marcada para
àquela maravilhosa tarde de Verão.
- Fechou-se negócio? –
Perguntou o presidente da empresa.
- Não graças à você –
respondeu Paulo, ainda exaltado.
Nesse momento toda sua
agonia e angústia dominavam a mente de João. Começou ao questionar a sí mesmo.
Sabia que tinha uma das maiores e bem sucedidas empresas brasileiras, mas nada
possuía; sabia que havia conquistado tudo aquilo por seu árduo trabalho, assim,
mantinha sua consciência limpa. Tinha a noção de que seu coração não pertencia
à tranquilidade e a calmaria, João queria lutar com todas as suas forças em
meio as maiores adversidades, para, enfim, desfrutar da glória da vitória,
contudo não mais podia, por isso vivia sem esperanças, já que só isso o dava
prazer:
- Você nem liga, né? –
perguntou Paulo de forma irônica.
Recordou-se, João, de
tudo que fez para chegar aonde chegou. Desse modo, havia colocado aquela
empresa num patamar mais alto que sua própria vida, se importava sim. Alguns
considerariam o trabalho de uma existência, João não, creia que a vida, em sí,
poderia dar muito mais do que a J.corp, e como medalha conquistada não lhe dava
mais prazer.
- Não – respondeu João,
calmamente.
João chegou à sua
conclusão. Assim, comprovou para sí mesmo que não importasse o que dissessem,
desejava sua felicidade, e, o único meio disso acontecer seria recomeçar do
zero, para se tornar, novamente, um grande empresário, novamente e
novamente.... Sabia, ele, que isso não fazia o menor sentido, contudo, era o
que seu coração ordenava, mas, infelizmente, sua felicidade não valia mais do
que a de todas as pessoas que trabalhavam na corporação e a compunham, como um
braço ou perna, estava condenado pelo resto de sua vida à infelicidade.