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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Lavando as mãos- parte 1




Era mais um dia de trabalho para João. Era uma típica segunda-feira, em que o mesmo se dirigia numa limusine para a sede de sua empresa, J. Corporation. João, ao subir para seu escritório, remexia em sua mente, a qual ainda estava sonolenta, as atribuições para aquele belo dia. Assim, Quando finalmente chegou a seu local de trabalho costumeiro, seus olhos embaçados pelo sono e pela falta de entusiasmo distinguiam alguns dos muitos vultos que entravam e saiam do gabinete; por isso, ignorando muitas das informações trazidas e esperando ordens, as quais saiam mecanicamente de sua boca pelo hábito de fazê-las, esse era o trabalho de João.
Muitas pessoas competentes trabalhavam na alta administração da J.corp, mas, talvez, a mais útil delas fosse o vice-presidente Paulo. Dessa forma, seu interesse e convicção contrastava com o de João, seu melhor amigo, por assim dizer. Naquela segunda-feira ocorreu algo curioso entre ambos os amigos, Paulo, ao entregar o último relatório do dia, encontrou João falando sozinho, não, falando consigo mesmo, achou estranho e saiu sem ser notado, o vice-presidente.
Ao cair da noite, quando todos haviam se retirado do trabalho para seus respectivos lares, ficaram a sós Paulo e João, por se sentir confortável na situação, perguntou a seu superior sobre o episódio mais cedo. Dessa forma, João, demonstrando altíssima confiança, contou que se sentia inútil e pensava em deixar a empresa. Aquele lugar não o pertencia mais, não havia mais o que fazer ali, não havia mais lugar para sí mesmo, era um estranho em meio a estranhos, encarcerado, estava, em sua própria vida, sentenciado, estava, pelo compromisso com todos, algo que não podia abandonar.
Seus pensamentos batiam de frente com os de Paulo. Este acreditava que a empresa não era valorizada o bastante por João e ela merecia mais; assim, disse para ele que deveria repensar sua decisão de abandonar a corporação, afinal, era um grande desrespeito para com todos os envolvidos na companhia, já que João era um único membro do grande conjunto de pessoas que a compunham, por isso não podia abandoná-la sem um substituto apropriado. João afirmou que pensaria sobre isso.
Ao sair do edifício, Paulo pensou como seu chefe era idiota.
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Era uma bela tarde de Verão. Podia-se ver o ponto de ônibus, o qual estava repleto de pessoas. Não. Estava cheio de bravos guerreiros que, depois de um dia inteiro de lutas inimaginavelmente penosas, voltavam à suas respectivas residências, seus castelos de proteção e calmaria, ou não, suas moradias podiam ser, simplesmente, mais um campo de batalha. João existia nessa vaga lembrança, mas como toda memória ficou no passado.
João estava sentado em um banco nessa tarde de Verão, vendo a vida passar em sua frente. Assim, meio a multidão que se acotovelava no ponto, reconheceu uma figura familiar, a qual, ao contrário das outras, não brigava por um lugar no transporte público ou desejava voltar para sua casa. Dessa forma, essa figura se aproximava cada vez mais de João, até que o coagido pronunciou:
- Olá Paulo, o que te traz aqui? – disse João, sem espanto.
- Você, é claro! – disse Paulo, o qual estava um tanto exaltado.
O mundo voltava.  A ilusão daquela bela tarde de verão se dissipava no ar, as palavras ditas por Paulo trouxeram à tona a verdade absoluta, o mundo que se avistava, o mundo da luta, não mais pertencia a João. Se lembrava de que havia uma importantíssima reunião, que estava marcada para àquela maravilhosa tarde de Verão.
- Fechou-se negócio? – Perguntou o presidente da empresa.
- Não graças à você – respondeu Paulo, ainda exaltado.
Nesse momento toda sua agonia e angústia dominavam a mente de João. Começou ao questionar a sí mesmo. Sabia que tinha uma das maiores e bem sucedidas empresas brasileiras, mas nada possuía; sabia que havia conquistado tudo aquilo por seu árduo trabalho, assim, mantinha sua consciência limpa. Tinha a noção de que seu coração não pertencia à tranquilidade e a calmaria, João queria lutar com todas as suas forças em meio as maiores adversidades, para, enfim, desfrutar da glória da vitória, contudo não mais podia, por isso vivia sem esperanças, já que só isso o dava prazer:
- Você nem liga, né? – perguntou Paulo de forma irônica.
Recordou-se, João, de tudo que fez para chegar aonde chegou. Desse modo, havia colocado aquela empresa num patamar mais alto que sua própria vida, se importava sim. Alguns considerariam o trabalho de uma existência, João não, creia que a vida, em sí, poderia dar muito mais do que a J.corp, e como medalha conquistada não lhe dava mais prazer.
- Não – respondeu João, calmamente.
João chegou à sua conclusão. Assim, comprovou para sí mesmo que não importasse o que dissessem, desejava sua felicidade, e, o único meio disso acontecer seria recomeçar do zero, para se tornar, novamente, um grande empresário, novamente e novamente.... Sabia, ele, que isso não fazia o menor sentido, contudo, era o que seu coração ordenava, mas, infelizmente, sua felicidade não valia mais do que a de todas as pessoas que trabalhavam na corporação e a compunham, como um braço ou perna, estava condenado pelo resto de sua vida à infelicidade.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

A sociedade hedonisíaca



A Sociedade Hedonisíaca
O caminho para o desenvolvimento, de forma geral, depende do sucesso econômico. O progresso financeiro se mostra tão fundamental na construção de uma civilização graças a seu fator essencial, o dinheiro. Não me refiro simplesmente ao sistema monetário, mas sim, a qualquer sistema de troca de mercadorias, cujo caráter e princípio não deixam de ser o de um sistema monetário. Enfim, o dinheiro possui o poder de transformar, mudar e revolucionar as bases éticas, morais, culturais, ideológicas, etc mais bem enraizadas na mente e tradição humana, afinal, o dinheiro é capaz de mover as pessoas. Como a moeda é a busca de todo ser humano, logo, é o objeto mais poderoso do mundo.
  Imagine algo que seja capaz de não obrigar, mas sim, fazer com que outra pessoa deseje executar um trabalho que você não quer; agora abra sua carteira e pegue uma nota de valor ou uma moeda. Cada um de nós tem esse poder. O poder deriva de algo considerado a razão da existência de todas as civilizações humanas por minha humilde opinião, a convenção. Para uma sociedade existir é necessário algo que promova a cooperação entre as pessoas, esse algo pode ser a religião (como foi na Europa por séculos), uma ideologia (como no caso dos hippies e dos socialistas) ou o dinheiro (como é hoje na maior parte do mundo); todos esses fatores são extremamente poderosos, afinal, todos eles são capazes de dominar pessoas, e quem controla as pessoas, controla tudo.
Todos os fatores de dominação são impressionantemente eficazes se promoverem o objetivo básico de todos os humanos, a felicidade. Sim, é um pouco clichê e fundamentalista dizer isso, contudo, no momento atual é a verdade. Quando digo felicidade, não me refiro a algo concreto e material, pelo contrário, quero dizer que a felicidade é tudo aquilo que a consideramos ser. Assim, o segredo da dominação humana não é nada mais, nada menos do que promover uma religião, uma ideologia ou o dinheiro como um meio de alcançar o conceito da felicidade. Pensemos em alguns exemplos, cruzados não morreram por acreditar que dessa forma encontrariam a felicidade? Inúmeros proletários não optaram pelo socialismo acreditando que dessa forma viveriam felizes? Milhares de pessoas não vão a cassinos ou apostam em loterias acreditando que ficando ricos serão felizes?
As grandes maiorias das pessoas, de todas as eras, estão ou estiveram sob essa alienação de busca incessante pela felicidade. As elites se formam desse jeito, elas convencionam uma forma de alcançar a felicidade que as beneficiem, e a partir disso, conseguem mover as pessoas. Infelizmente a felicidade é meramente um conceito, logo, ela é o que acreditamos ser, devido a isso, muitas pessoas que já alcançaram o ápice financeiro, social e moral se suicidam, essas pessoas chegaram onde disseram a elas que estaria a felicidade e não estava. Não digo que a felicidade não existe, mas sim, ela existe em que a cremos estar, dessa forma devemos ver a felicidade não como um momento de nossas vidas, mas como uma continuidade. Vive-se a felicidade durante o tempo em que se acredita estar vivendo-a.              

                     Gustavo Padilha Polleti, Escritor e filósofo ainda não descoberto =)

quinta-feira, 8 de março de 2012

Em busca de shangri-la, vulgo remédio popular!

Em busca de Shangri-la, vulgo remédio popular.

 Há muito tempo estou em busca de Shangri-la, o paraíso perdido. Contudo, agora é uma questão de vida ou morte, pois estou muito doente de tuberculose devido a minha procura incessante na cordilheira do Himalaia, e agora estou aqui necessitando do elixir da vida, o qual só pode ser encontrado nesse lugar mítico. Minha vida depende da busca, a que tenho dedicado toda vida. Que ironia, não?

Mesmo assim, ainda não perdi a esperança, pois tudo isso pode ser um sinal de que eu irei encontrá-la, afinal, agora, tenho todo o mais profundo direito de dizer que irei descobrir Shangri-lá ou morrerei tentando. Também, tenho conhecimento de novas informações, de acordo com uma nova pesquisa de uma fonte seguríssima (comercial do governo sobre o novo sistema de distribuição de remédios grátis),  de que a cidade perdida não está no Tibete, mas no Brasil! Após analisar minha fonte segura pode-se verificar características em comum que ligam o paraíso perdido à uma certa região do Estado tupiniquim. E verifiquei tudo isso a partir de uma relação do elixir da vida eterna com a farmácia popular, vida de graça era o que minha fonte prometia.

Assim, a partir dessa pista saí do tibete e viajei diretamente para o Estado de São Paulo, onde parecia ser o foco do mito, pensei nisso pela observação de outras fontes como uma propaganda que demonstrava o quão maravilhoso era esse local ("antes não tinha agora têm"). Quando cheguei parecia que havia errado de local, nada parecia Shangri-la, não havia campos verdes, pessoas felizes meditando ou ar mais puro que o da montanha mais alta. Mas mesmo assim segui em frente, tinha certeza de que encontraria a farmácia popular e assim a vida eterna de que tanto precisava. Contudo segui durante horas a fim e nada. Meu corpo continuava a andar, passo após passo, minha esperança parecia se despedaçar em mil pedaços e foi quando vi- remédio popular - escrito num local que seria o último o qual procuraria pela elixir que me concederia a vida eterna, mas apesar de minha desconfiança, entrei no local, mas ao invés de ver um monge para me conceder o privilégio da vida eterna, vi uma mulher (ou homem ou ser, não tenho certeza) debruçada na mesa de um caixa com o olhar de decepção que poderia matar um obelisco, sempre soube que minha busca seria tudo menos fácil, assim me dirigi ao "yeti", a criatura peluda se pronunciou com palavras, cujo som ainda rasga minha memória, - O que você qué? - e então, tentando suportar o insuportável contei minha história e minha busca e em seguida aquela criatura respondeu - o senhor tem cadastro ? - admito que esperava ouvir tudo, acreditava que ela (ou ele ainda não tenho certeza) proporia um teste ou uma pergunta mas não esperava ter cadastro para esse tipo de coisa. Mesmo assim respondi que não tinha cadastro e então o/a abominável monstro/a das neves disse que sem cadastro não poderia ter acesso ao remédio popular.

Em seguida saí de perto da companhia do "yeti", que afinal não era tão ruim assim pois até me deu as informações necessárias para obter acesso aos remédios populares, assim segui todas as instruções do ser, as quais levaram várias semanas, e em seguida corri para encontro do/a abominável monstro/a das neves apresentei todos os meus documentos e quando minha busca da vida inteira parecia terminado a criatura se pronunciou -não temos o medicamento para tuberculose no momento, terá que esperar 6 meses - e então enfurecido, saí do local, não podia acreditar, parecia que minha fonte segura não era tão segura assim, afinal para mim não restava dúvida de que aquele, de forma alguma era a Shangri-la que eu esperava. Não podia esperar 6 meses, não por birra mas por questões de saúde, para receber a vida eterna, ou se realmente aquilo era a vida eterna, pois nada parecia real.

Mesmo após minha decepção segui em frente, contudo minha situação de saúde piorava cada vez mais por respirar aquele ar poluído. Continuei procurando pela elixir da vida eterna por muitos caminhos, contudo todos davam no mesmo fim do episódio do "yeti".

 Me custava desistir, me custava a vida, minha vida, da qual não abriria mão e assim procurei um meio, uma saída até que a encontrei, naquele ano ocorria um evento de festas e muitos enfeites que chegavam a me encantar com os rostos neles. Me deixavam cego. E num desses eventos um senhor que estava discursando me chamou e pediu que lhe dissesse um desejo meu e então contei que desejava um remédio para tuberculose pela rede remédio popular e então meu caso ganhou repercussão assim, após toda a opinião pública estar ao meu favor aquele político me concedeu, finalmente, o REMÉDIO POPULAR!

Infelizmente aquela caixa em que estava escrito genérico não me concedeu a vida eterna e nunca mais vi aquele senhor que estava no comício, e então faleci, mas faleci feliz por minha busca ter chegado ao fim e posso dizer que dediquei minha vida à procura de Shangri-la.

GUSTAVO PADILHA POLLETI  escritor ainda não renomado. :D